À medida que nossos bebês vão crescendo, ficamos ansiosos para que eles comecem a falar logo. Não vemos a hora de ouvir "Feliz dia das mães", "Feliz dia dos pais", ou "Te amo". A todo momento, as pessoas páram nas ruas e nos perguntam: "Ele já diz 'mama'"?, ou então "Qual a palavra que ela falou primeiro? Papa?".
Nos primeiros sinais de descoberta da fala - quando o bebê começa a balbuciar seus primeiros sonzinhos através das vogais -, a rotina dos papais gira em torno de repetir as palavras chave no estilo de um mantra. "Fala 'vovó'!", "Diz 'papa'". E não sossegamos enquanto não ouvimos alguma palavra semelhante.
Confesso: às vezes não me aguento de ansiedade pra ouvir Maria Joana conversando e então dividirmos momentos eternos de bate papo descontraído. Gente, por que temos tanta fixação na fala?
Não percebemos o valor do silêncio. Parece que nos viciamos em expressar tudo com palavras, gritos ou sussurros. Enquanto não sabe falar, o bebê aprende - do seu jeito - a se expressar sem precisar falar uma palavra inteira. Ele demonstra fome, sono, alegria, tristeza, cansaço, vontade de estar no colo, carência.. vontade de receber um carinho... simplesmente com o olhar e com o próprio corpo. Coisa que nós, adultos e ditos entendidos do mundo, não sabemos mais.
Não sabemos porque esquecemos a nossa sensibilidade naquele lugar longínquo pelo qual todos já passamos chamado infância. E como diz o pequeno príncipe, "agimos como se esquecêssemos que um dia fomos crianças".
Se vamos tomar banho, temos que cantar no chuveiro. Se vamos varrer uma casa, temos que ligar o rádio. Chegamos em casa e a primeira coisa que fazemos? Ligamos a TV.. independente do que esteja passando, não ficamos no silêncio. Parece que se torna difícil aproveitar o silêncio pra pensar na vida, pra ler aquele livro, pra produzir um bom texto...
Torna-se difícil curtir um momento a dois em silêncio, deixar que os próprios olhos falem e que os corpos expressem as verdadeiras vontades.
A cada dia me convenço mais de que temos tanto a aprender com os bebês... não somos nós que ensinamos o mundo a eles. Achamos que ensinamos, carregados pela soberba de sermos adultos inteligentes. Eles é que descobrem o mundo da forma deles, com as cores que eles querem implementar em suas vidas e interagem com as pessoas e com a natureza do jeito deles: em silêncio.
É por isso que um sorriso de criança diz tanto. Porque é feito em silêncio. Silêncio esse que desaprendemos a transmitir.
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