terça-feira, 26 de junho de 2012

Maternidade Segura, ações humanizadas*


Apesar das limitações financeiras e estruturais nos hospitais e maternidades em vários países, ações eficazes e humanizadas de atenção à saúde materna e neonatal têm se destacado cada vez mais como exemplos a serem seguidos.  E foi para estimular e divulgar ações como essa que a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) criaram a Iniciativa Maternidade Segura, uma premiação que visa estimular cada país a reduzir seus índices de mortalidade materna e alcançar o acesso universal à saúde reprodutiva.

Divulgado no último dia 29 de maio em Washington, nos Estados Unidos, o concurso de fotografias e de boas práticas em saúde materna premiou as melhores imagens e ações sobre a promoção e proteção dos direitos das mulheres, mães e recém-nascidos, de acessar o mais alto padrão de atendimento em saúde disponível. 

Parabéns às experiências destacadas e que sirvam de inspiração para instituições, governos e profissionais no Brasil, em busca de soluções – a longo e curto prazo – para as superlotações nas maternidades. Atendimento de qualidade à gestante é um benefício que se reflete em toda a população. 

Imagens

Entre mais de 2000 imagens avaliadas, três se destacaram: a Argentina ficou em primeiro lugar, seguida pelo México e por Honduras. 

Primeira posição: "Parir", de Tali Elbert, Argentina.

Segundo lugar: "Maternidad Digna"
de Cecilia Monroy, México.

Terceiro lugar: "Pobreza económica, riqueza de amor maternal",
de Gustavo Raúl Amador, Honduras.
Boas práticas

No concurso sobre as boas práticas, foram premiadas as melhores experiências em nível comunitário, estatal e institucional (serviços de saúde), que obtiveram redução eficaz da mortalidade materna e melhoraram o atendimento à gestante e aos recém-nascidos. Entre mais de 120 experiências de 22 países, o Brasil foi premiado nas três categorias:

- Concurso de boas práticas na comunidade: terceira posição para o Programa Mãe Curitibana (Curitiba-PR), pelo aumento no atendimento ao pré-natal e partos institucionais, entre outras realizações.

Programa Mãe Curitibana 
Foto: Prefeitura de Curitiba-PR.
- Concurso de boas práticas institucionais, promovidas pelos serviços de saúde: terceira posição para a Casa de Gestantes Zilda Arns, do Hospital Sofia Feldman (Belo Horizonte-MG). Um programa que mostrou os benefícios da implementação de casas maternas para a redução das mortes maternas e infantis.

Mães acolhidas na casa da gestante Zilda Arns.
 - Concurso de boas práticas governamentais, de Estado: terceira posição para a Comissão Perinatal de Belo Horizonte - Gestão da qualidade e da integralidade do cuidado para a mulher e a criança no SUS (Belo Horizonte-MG). Pela redução da mortalidade materna, aumento de consultas no pré-natal, e uma mudança na relação dos serviços com os direitos das mulheres e dos bebês.

Curso de doulas na Comissão Perinatal de Belo Horizonte. 
Foto: Anderson Martins

*Texto publicado no caderno "Revista da Cidade", do Jornal da Cidade de domingo, dia 17/06/2012.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Os crimes contra as crianças e a responsabilidade dos pais

Casos de abuso e violência sexual contra crianças e adolescentes são sempre chocantes e repudiados pela sociedade. Claro que não poderia ser diferente. Mas sempre que tenho conhecimento de uma situação desse porte, me questiono a cautela que o pai ou a mãe têm com a criança.

Não se trata de retirar a culpa do agressor, mas de chamar os pais à responsabilidade. Todos os dias vejo crianças pequenas andando de ônibus sozinhas, brincando nas praças sem a supervisão de um adulto, em volta de bares e lanchonetes, entre uma série de situações similares. "Gente, cadê os pais dessa menina?". É inevitável pensar isso. Por isso, por trás dos perigos a que são expostas nossas crianças, está também a nossa responsabilidade pela cautela, proteção, orientação e o básico: com quem deixamos nossos filhos?

Pensei muito nisso ontem, quando fui buscar minha filha no hotelzinho e uma das coordenadoras estava visivelmente nervosa após desligar o celular. Segundo ela, o pai de uma das 'hóspedes' - de apenas 1 ano e 1 mês - teria telefonado e disse que não poderia pegar a filha naquele horário. Pediu então que uma das funcionárias levasse a filha em casa, de táxi. Quando a coordenadora disse que não poderia fazer isso, ele então solicitou que ela colocasse a criança em um táxi e ensinasse o endereço para o motorista.

"Meu Deus! Como é que eu vou colocar uma criança de apenas 1 ano sozinha em um táxi? Com uma pessoa que ninguém conhece? Não posso fazer isso com sua filha, senhor. Me desculpe". Depois de ouvir isso, o pai da menina teria se irritado e pediu pra ela resolver 'o problema' com a mãe da menina.

Todas as funcionárias e mães que se encontravam ali no momento ficaram estarrecidas! Inclusive eu, que na hora olhei para minha filha e estremeci. Quando uma atitude como essa parte do próprio pai, é inevitável nos questionarmos que tipo de cuidado a criança recebe no dia a dia. 

Todos sabemos que a maioria dos casos de violência sexual contra crianças é cometido por pais, padrastos, vizinhos, amigos etc. Pessoas próximas à família. E nas mãos de um desconhecido então? Além de outros riscos que se corre como sequestro, comercialização de crianças etc.

Voltei para casa com essa história na cabeça, me perguntando várias coisas. Será que a mãe também é assim com a criança? Será que esse pai é carinhoso com a filha? Pega no colo? Brinca? Dá atenção? O que aconteceria se a coordenadora do hotelzinho acatasse o pedido do pai? Será que o taxista iria aceitar levar a criança sozinha?

Eu fiquei tão espantada com a atitude desse pai que não quis saber o nome dele nem da criança. Por mais que evitemos, alguns julgamentos são inevitáveis. 

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Saudades de uma época mal aproveitada

Sempre que vejo uma criança de colo, sinto saudades da época em que minha filha era bebê. "Mas, já? Sua filha ainda é tão pequena...", a maioria das pessoas logo responde quando esboço minha nostalgia. Até da gravidez tenho saudade.. sinto isso sempre que vejo uma gestante na rua. Contraditório, não?!

Sim, bastante. Durante a gravidez, reclamamos de dores, cansaço, noites mal dormidas, urina incessante... uma boa parcela da ansiedade pelo parto, inclusive, deve-se ao desejo de 'se livrar logo' do barrigão. 

E quando a criança nasce? Não existe cansaço maior... eu encarava a amamentação quase como uma escravidão - apesar da importância indiscutível do aleitamento. Mas hoje sinto falta de amamentar.

Acordar de três em três horas, sentir dores no peito e o inchaço ajudam ainda mais na perda do bom humor - além da posição secundária que é reservada para o relacionamento do casal (inclui-se aí a questão sexual também, pudores à parte).

Cansaço dificulta os prazeres da maternidade
Nos primeiros meses após o parto, a gente mal sai de casa. Eu sentia-me feliz em ir à esquina comprar o pão ou colocar o lixo na porta, verdade seja dita. Era a oportunidade que eu tinha de ver a rua. Claro que receber o tão esperado bebê no colo é gratificante e os dias que se seguem são emocionantes. 

Mas quase não aproveitamos. E acho que é por isso que sentimos tantas saudades de quando nossos filhos eram bebês. Estava conversando com uma amiga minha essa semana, cujo filho é da mesma idade de Maria Joana, e nos identificamos. A gente sente tanta falta porque não aproveita. Os outros babam a nossa barriga, mas somos nós que sentimos todos os desconfortos. Todos admiram o bebê, mas a carga mais 'pesada' nos cuidados acaba ficando para a mãe. 

Quando essa fase passa, sentimos saudades de não ter sorrido tanto, de não ter tido tanta disposição para aproveitar, de não ter podido passear tanto com o bebê. Enfim, de não ter tido a leveza suficiente para curtir cada momento, pois o cansaço físico e mental não deixavam. 

Alguns fatores que levam à sobrecarga da mãe são naturais e inevitáveis - como o parto, a necessidade da amamentação etc. Ninguém pode fazer isso por nós. No entanto, é possível haver mais empenho e solidariedade por parte da família nesses momentos. 

Extrair e armazenar o leite do peito é uma boa opção para que a mãe durma mais e o pai também se acorde de madrugada. Dividir a troca de fraldas, a lavagem das roupas, as tarefas domésticas... tudo isso faz uma diferença enorme. E olhe que, mesmo assim, o desgaste existe - ele só é amenizado. 

Pais devem ajudar as mães e dividir tarefas
Claro que não se trata de extinguir da mãe as obrigações e os dilemas da maternidade. Mas de pensar formas de tornar a maternidade em si um exercício mais humanizado e prazeroso - para o bem da criança e da própria mãe. Afinal de contas, pais com equilíbrio emocional e psicológico têm condições muito melhores de educar seus filhos.