Sempre foi difícil convencer minha filha a pedir desculpas. Ela cruzava os braços, fazia bico e nada. Eu brigava, gritava e até cheguei a bater nela por conta disso. Chegamos em uma etapa em que eu não sabia o que fazer, mas de uma coisa eu tinha certeza: algo que eu fazia estava aumentando a recusa dela em pedir desculpas a outras pessoas. Mas quando somos mães ou pais, parece que temos dificuldade de admitir que estamos errando e que aquela estratégia não está dando certo. Às vezes preferimos persistir no erro e piorar a situação do que voltar atrás e "perder a autoridade".
O clima entre nós duas estava piorando e ela sempre me enfrentava. Mas a partir do momento em que pude tirar dois minutos pra refletir francamente sobre a situação, lembrei que, desde criança, eu também tinha dificuldades de pedir desculpas. Se entrava em conflito com alguém, eu simplesmente excluía aquela pessoa do meu convívio e pronto. Quando não queremos admitir os próprios erros, é mais simples desprezar quem magoamos do que encarar as coisas de frente.
Como em vários aspectos da personalidade e do jeito de falar de minha filha, essas atitudes dela só estavam refletindo a minha conduta. Como é que eu posso exigir dela que tenha humildade e sensibilidade pra pedir desculpas a alguém, se nem eu mesma consigo ter autocontrole e admitir meus erros? Eu gritava com ela, eu ameaçava e por vezes batia. Como ela vai agir diferente em um momento de conflito? Essas e outras reflexões apareceram na minha cabeça tão rápidas como um raio de luz em um dos nossos momentos de conflito. Em questão de segundos, me toquei da gravidade do meu comportamento quando vi a forma como ela me olhava - com raiva, com vontade explícita de sair de perto de mim.
Ora, pedir desculpas é uma questão de sensibilidade, e não de imposição ou obrigação. Que importância tem ela repetir a palavra "desculpa" sem estar plena do sentimento de arrependimento, de autocrítica e, mais importante, de humildade? Foi no meio dessa briga que parei tudo o que estava falando, me abaixei na altura dela e pedi desculpas. Disse que queria conversar com ela, que se a gente continuasse gritando, iria se magoar e a peguei no colo.
Enquanto ela soluçava, eu disse que estava arrependida de ter gritado tanto e que queria que a partir desse dia nós pudéssemos conversar como amigas sempre que houvesse um problema. Ela me confessou que ficava chateada quando eu gritava com ela, mas também deixei claro que o comportamento dela não estava me agradando. E propus um pacto: eu evitaria ser grossa e gritar daquele jeito e ela prometeria me ouvir e me respeitar. É óbvio que ela tem que me respeitar, mas procurei uma maneira de enfatizar isso não com imposições, mas sensibilizando-a de que mães também têm sentimentos, mães também erram e que somente juntas poderíamos encontrar as soluções dos conflitos que não poderíamos evitar - como as divergências.
Somos ensinadas a não admitir os erros, a não falar sobre eles, não pedir desculpas aos filhos, porque seria uma espécie de "dar o braço a torcer" e "perder a autoridade". Eu pensava muito assim até perceber que isso é só mais um dos elementos de nossa criação que reproduzimos sem refletir. Por incrível que pareça, em um momento em que eu já estava angustiada por não conseguir ensinar minha filha a pedir desculpas, ela me mostrou de uma maneira muito simples que eu é que precisava aprender a pedir desculpas. E a partir do momento que eu dei essa abertura e me abri pra ela, as desculpas dela passaram a sair com mais facilidade.
Então procurei colocar menos imposições e mais explicações, menos ordens e mais argumentos, menos dedos na cara e mais compreensão. E foi só a partir do momento em que eu aprendi a pedir desculpas a uma criança de 3 anos é que ela passou a pedir desculpas a outras crianças, como uma corrente do bem se espalhando numa grande ciranda.
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