A primeira vez que vi uma pintura da Frida Kahlo, fiquei paralisada. Não sabia o que a pintora queria transmitir, mas a primeira interpretação que fiz foi a de um corpo feminino aprisionado em uma espécie de dor.
"Coluna Rota", de 1944, foi a primeira obra de Frida com a qual tive contato |
Desde então, fui tendo contato com outras pinturas até finalmente ler algo sobre sua vida e obra. Encaro Frida como um símbolo - uma pessoa que teve a rara capacidade de transformar a dor física e emocional em arte, poesia e transformação. Com atitudes aparentemente individuais, como usar uma roupa e arrumar o cabelo de uma determinada forma, Frida refletiu seu estilo em em significativos impactos sobre o conceito de belo e sobre sua própria identificação com a cultura de seu país.
Tudo o que fazemos no nosso corpo se reflete em uma maneira de nos apresentarmos socialmente e foi isso que Frida fez ao optar pela exaltação da cultura mexicana, de suas concepções de vida, amor, felicidade e feminino através de suas vestimentas. Transformou a dor em inspiração, o sofrimento em arte. Uma mulher admirável que rompeu barreiras morais de uma época.
E esse é foco de um projeto belíssimo de financiamento coletivo do qual tenho orgulho de ter participado: "Os vestidos de Frida", escrito por Christine Ferreira Azzi e com ilustrações de Juliana Fiorese. De maneira lúdica e voltado ao público infanto-juvenil, o livro traz a vestimenta de Frida como o fio condutor de uma viagem pelo mundo da arte, da moda e da reafirmação cultural.
Capa do livro "Os vestidos de Frida" |
O projeto me encantou por três razões: primeiro pela oportunidade de apresentar à minha filha a história e a obra de Frida, estimulando assim o interesse das novas gerações em não deixar se apagar essa história - as ilustrações da Juliana são belíssimas e chamam a atenção de qualquer criança para o colorido da arte.
Segundo, por abordar a moda de uma maneira diferente e criativa, priorizando a simbologia e o significado daquelas roupas em detrimento de padronizações estéticas. Peço licença para reproduzir abaixo um trecho emblemático sobre o assunto:
"Para Frida, as roupas vestiam não apenas seu corpo, mas também sua alma. Elas eram uma forma de expressar sua opinião e sua maneira de ver o mundo. Os vestidos que ela usava são inspirados nas mulheres indígenas mexicanas, e representavam seu vínculo com a cultura da sua nação"
Ilustração da capa, por Juliana Fiorense. |
Nesse sentido, a moda transpassa a noção de um padrão estético a ser supostamente seguido e nos mostra que a roupa se materializa em ideais de vida nos quais acreditamos. E essa é uma visão de moda muito interessante a passar aos nossos filhos, que nascem numa geração tão preocupada com o espetáculo da imagem.
Por fim, e como pode ser percebido pelo trecho acima citado, a delicadeza do texto chama atenção. Christine consegue falar sobre a Frida de uma maneira que não é triste, não nos reforça todo aquele sofrimento físico e emocional pelo qual a artista passou. É inevitável falar sobre isso ao lembrar de Frida, mas ela o faz de uma maneira excepcional, destacando a força de uma mulher que encontrou na moda, na poesia e na pintura uma maneira de viver, de se reafirmar.
Trechos do livro "Os vestidos de Frida" |
Em uma linguagem acessível tanto para crianças como para adultos - pode-se ler essa história para uma criança de quatro anos com a maior naturalidade, sem camuflar palavras ou expressões e sem ter que explicar sobre o que está escrito.
Ajudamos a financiar "Os Vestidos de Frida" e recebemos três exemplares aqui em casa - um para cada um. O de Maria Joana está embaladinho para quando ela aprender a ler. Mas é uma fase perfeita para que ela conheça essa história - sabe aquela fase da sua filha que ela só quer usar vestidos inspirada nas princesas que ela vê nos desenhos animados? É isso, chegou a hora de ampliar esses horizontes. Não tinha momento melhor para entrarmos em contato com essa obra. Vamos disseminar?
Produtos do projeto "Os vestidos de Frida" |