sábado, 19 de julho de 2014

"Os vestidos de Frida" chegaram

A primeira vez que vi uma pintura da Frida Kahlo, fiquei paralisada. Não sabia o que a pintora queria transmitir, mas a primeira interpretação que fiz foi a de um corpo feminino aprisionado em uma espécie de dor. 

"Coluna Rota", de 1944, foi a primeira
obra de Frida com a qual tive contato
Desde então, fui tendo contato com outras pinturas até finalmente ler algo sobre sua vida e obra. Encaro Frida como um símbolo - uma pessoa que teve a rara capacidade de transformar a dor física e emocional em arte, poesia e transformação. Com atitudes aparentemente individuais, como usar uma roupa e arrumar o cabelo de uma determinada forma, Frida refletiu seu estilo em em significativos impactos sobre o conceito de belo e sobre sua própria identificação com a cultura de seu país. 

Tudo o que fazemos no nosso corpo se reflete em uma maneira de nos apresentarmos socialmente e foi isso que Frida fez ao optar pela exaltação da cultura mexicana, de suas concepções de vida, amor, felicidade e feminino através de suas vestimentas. Transformou a dor em inspiração, o sofrimento em arte. Uma mulher admirável que rompeu barreiras morais de uma época.

E esse é foco de um projeto belíssimo de financiamento coletivo do qual tenho orgulho de ter participado: "Os vestidos de Frida", escrito por Christine Ferreira Azzi e com ilustrações de Juliana Fiorese. De maneira lúdica e voltado ao público infanto-juvenil, o livro traz a vestimenta de Frida como o fio condutor de uma viagem pelo mundo da arte, da moda e da reafirmação cultural. 

Capa do livro "Os vestidos de Frida"
O projeto me encantou por três razões: primeiro pela oportunidade de apresentar à minha filha a história e a obra de Frida, estimulando assim o interesse das novas gerações em não deixar se apagar essa história - as ilustrações da Juliana são belíssimas e chamam a atenção de qualquer criança para o colorido da arte. 

Segundo, por abordar a moda de uma maneira diferente e criativa, priorizando a simbologia e o significado daquelas roupas em detrimento de padronizações estéticas. Peço licença para reproduzir abaixo um trecho emblemático sobre o assunto:

"Para Frida, as roupas vestiam não apenas seu corpo, mas também sua alma. Elas eram uma forma de expressar sua opinião e sua maneira de ver o mundo. Os vestidos que ela usava são inspirados nas mulheres indígenas mexicanas, e representavam seu vínculo com a cultura da sua nação"

Ilustração da capa, por Juliana Fiorense.
Nesse sentido, a moda transpassa a noção de um padrão estético a ser supostamente seguido e nos mostra que a roupa se materializa em ideais de vida nos quais acreditamos. E essa é uma visão de moda muito interessante a passar aos nossos filhos, que nascem numa geração tão preocupada com o espetáculo da imagem.

Por fim, e como pode ser percebido pelo trecho acima citado, a delicadeza do texto chama atenção. Christine consegue falar sobre a Frida de uma maneira que não é triste, não nos reforça todo aquele sofrimento físico e emocional pelo qual a artista passou. É inevitável falar sobre isso ao lembrar de Frida, mas ela o faz de uma maneira excepcional, destacando a força de uma mulher que encontrou na moda, na poesia e na pintura uma maneira de viver, de se reafirmar. 

Trechos do livro "Os vestidos de Frida"
Em uma linguagem acessível tanto para crianças como para adultos - pode-se ler essa história para uma criança de quatro anos com a maior naturalidade, sem camuflar palavras ou expressões e sem ter que explicar sobre o que está escrito.

Ajudamos a financiar "Os Vestidos de Frida" e recebemos três exemplares aqui em casa - um para cada um. O de Maria Joana está embaladinho para quando ela aprender a ler. Mas é uma fase perfeita para que ela conheça essa história - sabe aquela fase da sua filha que ela só quer usar vestidos inspirada nas princesas que ela vê nos desenhos animados? É isso, chegou a hora de ampliar esses horizontes. Não tinha momento melhor para entrarmos em contato com essa obra. Vamos disseminar?   

Produtos do projeto "Os vestidos de Frida"


sexta-feira, 18 de julho de 2014

Entre paredes e jardins

Ontem, na hora de dormir, minha pequena bateu a cabecinha na parede. Coisa leve, mas desabafou:

- Culpa dessa parede dura! Não sei pra que ela fica aí, era melhor um jardim!

Concordo! As crianças são muito sábias, poderíamos trocar as paredes duras por jardins.

sábado, 12 de julho de 2014

Conversando sobre o ciclo da vida

Enquanto eu estudava na sala, minha pequena brincava no quarto com as bonecas e cantava:

"Mãezinha do céu
eu não sei rezar
eu só sei dizer
que eu quero te amar..."

E por aí vai. Uma música que minha avó cantava para nós e que canto para ela quando dormir é uma tarefa difícil. De repente, depois de uns segundos de silêncio, ela perguntou:

- Mãe, você vai pro céu?
- Sim, um dia mamãe vai pro céu.
- E eu vou te ver lá?
- Não sei... acho que sim, filha... um dia você vai também, então acho que a gente pode se encontrar lá.
- E quando você for pro céu... não vai mais voltar pra casa? Eu quero que você fique aqui comigo.

Então me levantei e sentei perto dela:

- Meu bem, todos vamos pro céu um dia. Quando eu era do seu tamanho, a minha vovó foi pro céu, tem muita gente legal lá. Todo mundo vai depois que cresce, mas isso não é ruim. Não é pra ficar triste, quem vai pro céu vira um anjo e protege todo mundo que precisa. Quando a mamãe for pro céu, vai ficar sempre com você, ajudando a dormir, a ter sonhos bons, a se proteger. Não fique pensando nisso, mas se pensar, não fique triste. Certo?
- Certo. Agora eu tenho que escovar os dentes, mãe.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Entre os prazos e o prazer

Férias escolares já virou sinônimo de dor de cabeça. Não que seja ruim, desagradável ou algo parecido o fato de seu filho ficar mais tempo em casa. Ao contrário, é uma oportunidade de dormir juntinhos até mais tarde, assistir mais animações com pipoca, passear um pouco mais, conhecer uns lugares, revisitar outros, conversar mais etc. O problema é que, como diz meu sobrinho de 8 anos, os pais não tiram férias ao mesmo tempo que os filhos.

Minha filha ficou de férias por um mês e exatamente no último mês que tenho pra preparar o texto da qualificação de mestrado. Exatamente no mês de provas do papai na faculdade. Resultado: renovação do estoque de desenhos e animações, enquanto a mamãe passa mais horas que o de costume no computador, tentando se concentrar em meio ao caos de uma criança de 3 anos que fica o dia todo em casa.

Me sinto mal por não conseguir cumprir os prazos de leitura e escrita como eu gostaria, me sinto mal por não ter tempo/dinheiro pra tirar minha filha da rotina em plenas férias, ir à praia, ao cinema, ao oceanário, visitar os amigos que têm filhos da mesma idade etc. Enfim, pedimos desculpas aos filhos por não presenteá-los com uma viagem de férias ou uma programação divertida no mês de julho, mas no fundo sabemos que cumprimos prazos, obrigações, compromissos, regras e cobranças que não estão ao nosso alcance.

Muitas vezes agimos como o personagem Guido, do filme "A vida é bela", tentando camuflar a realidade pra que eles não percebam as dores e os dilemas da vida real, as pressões do mundo adulto. É frustrante perceber a dificuldade entre conciliar os compromissos de estudo e trabalho e os desejos e demandas dos nossos filhos. Parece até pedir demais, porque aprendemos desde cedo que o "natural" é trabalhar 10 horas por dia e reservar os finais de semana para o prazer, o lazer.

Quando eu era criança, meu pai sempre estava trabalhando. Quando estava em casa, estava cansado do trabalho e tínhamos que deixá-lo em paz. Não conversávamos, não brincávamos, não interagíamos. Interagíamos aos domingos, nos jogos do Flamengo. Era a oportunidade de receber um pouco de atenção. Era ótimo assistir ao jogo do Flamengo, porque ele me explicava tudo e até vibrávamos juntos. Era o momento de ver meu pai sorrindo e conversando. Minha mãe sempre tinha muitos pratos pra lavar, roupas pra cuidar e, quando se sentava pra assistir à novela, dormia. Dormia de tão cansada. E pra não levar bronca, era melhor deixar dormir.

Desde que minha filha nasceu, sempre pensei que poderia fazer diferente. O mercado de trabalho me consumia, eram 12 horas entre um emprego e outro. Por alguns meses, ela passava mais tempo com o pai e com a avó do que comigo - não estamos falando de um ranking, mas via o tempo passar e não queria perder o crescimento de minha filha, momentos que não voltam. "Vou parar de trabalhar e tentar um mestrado, assim volto a estudar e fico mais tempo em casa". Apesar do aperto financeiro, foi a melhor decisão. Pessoalmente, estou realizada de voltar à universidade e perceber que posso passar menos tempo sendo robô e mais tempo aprendendo, lendo, estudando, sentindo que a caminhada segue para algum lugar. Passei a estudar para concurso e os frutos já estão brotando - algo impensável em outras épocas.

Mas é muita coisa pra ler, muita coisa pra estudar e escrever. Na primeira semana de férias, eu surtei. Logo vi que não conseguiria cumprir os prazos e fazer o que tinha estabelecido como meta pra mim mesma. Estressei e acabei colocando as mãos na cabeça. Quer saber de uma? Dane-se. Separei quatro horas por dia pra estudar tudo o que tinha que estudar e, como vi que não era possível ainda assim cumprir a meta, elenquei prioridades e agilizei meu próprio ritmo.

E assim estamos, dormindo até mais tarde, almoçando tarde, passando mais tempo no parquinho, conversando bastante, passeando de bicicleta e fazendo bobagens. Dessas que sonhamos em ficar fazendo om os filhos quando trabalhamos 10 horas por dia. Sei que poderia estar mais avançada na pesquisa, mas não parei de escrever. Apenas parei de me cobrar tanto. Próxima semana as férias acabam e é hora do "intensivão". Tenho duas semanas sozinha em casa. E já me sinto como Demi Moore em "Além do Limite da Honra" - me preparando pra guerra.