terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O "trauma" do básico na escola

Quando eu era criança, sempre ficava encantada com os estojos coloridos e cheios de botões de minhas colegas de classe. Com tudo, na verdade. Aquelas mochilas de princesas, borrachas de vários formatos, lápis coloridos, cadernos cheios de penduricalhos, canetinhas cheias de brilho e todos os itens de papelaria mais caros que meus pais nunca podiam comprar. Lá em casa eram três matrículas, três listas de livros e três mensalidades. Ou seja, tudo o que usávamos era do mais básico dos básicos: aquela borrachinha azul e vermelha (que mais borrava do que apagava), lápis preto e mochila básica. E olhe que meu pai sempre reclamava dos gastos. A nossa novidade era aquele lápis que tinha contas de matemática. Não fazíamos nem a ponta, para não gastar. 

Canetinhas coloridas... =)
Quando comecei a estagiar (já na universidade), passei a me deliciar nas papelarias. Comprei todas as canetinhas que podia, estojos, cadernos coloridos, porta-canetas cheios de funções... tudo aquilo que eu fantasiava, agora eu podia comprar. E levava tudo para usar no trabalho, na minha mesa. E desde então é uma mania que carrego até hoje. Não posso ver uma papelaria. 

Mas agora virei mãe. E desde então, na hora de comprar os materiais escolares de minha filha, eu fico atordoada. Tenho vontade de levar tudo o que eu queria na minha época, mas tem dois 'poréns' aí: o primeiro é o bolso, claro. E o segundo é que eu não quero acostumá-la a isso. Se eu comprar a bolsa da Dora esse ano e no próximo eu não puder, como é que eu vou explicar isso a ela, que a essa altura do campeonato já estará totalmente mimada? Além disso, se ela chegar na escola com toda a parafernália feminina e colorida, como fica aquela coleguinha que leva para a escola "o básico dos básicos", como eu? Não podemos caminhar na maré do consumismo infantil. E, não nos enganemos. As crianças são as maiores vítimas dele. 

No último Natal, minha sobrinha de cinco anos pediu à mãe um tablet, alegando que a coleguinha de turma tinha um e ela não tinha. Eu disse a ela que não sabia o que era um tablet e perguntei para que servia. E ela me respondeu, dando de ombros: "Pra jogar joguinhos, oras".

Então, eu fico me perguntando: será que os pedagogos não percebem os traumas que são criados nas crianças por conta desse consumismo e não desenvolvem maneiras de barrar esse tipo de coisa na sala de aula? Por exemplo: seria errado conversar com os pais de uma criança de cinco anos e pedir que eles, por gentileza, não permitissem mais que ela levasse um tablet para a sala de aula? Se você tivesse cinco anos, iria se concentrar nas atividades com uma colega do seu lado jogando no tablet? Assim como minha sobrinha, tenho certeza que todas as outras crianças chegaram em casa pedindo um tablet aos pais. E por aí vai o estímulo ao consumismo e a desvirtuação do papel da escola.


quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A primeira vez no teatro

Depois de vencer a insegurança, decidimos levar Maria Joana pela primeira vez ao teatro. Decidimos de última hora assistir à peça musical "As mulheres de Hollanda", baseada nas obras de Chico. Meu receio era o de ela não gostar do ambiente, chorar, gritar ou não se comportar de alguma forma que incomodasse o resto da plateia.

Mas essa semana vi a foto de um casal amigo junto com o filho - de idade semelhante à de Maria Joana - no teatro. Então, antes de sairmos, eu a chamei, mostrei a foto no Facebook e disse: 

- Olha só como Arthur ficou comportadinho no teatro... a mamãe dele me disse que ele adorou e nem chorou, porque ele já é mocinho.  

Ela ficou olhando, sorriu e pediu pra ver mais fotos. Mostrei mais fotos de outras crianças dizendo que elas estavam no teatro, sentadinhas e comportadas, sem medo de nada - mentirinhas como essa não levam ninguém ao inferno. E antes de sair expliquei que no teatro as luzem seriam apagadas para que a gente pudesse ver melhor a peça, mas que ninguém tinha medo disso. Ela ficou empolgada, me prometeu que não choraria e então saímos.

Lá, percebi que ela ficou intimidada com a quantidade de pessoas e com o tamanho do ambiente, observando tudo calada e de olhos arregalados. Na hora que as luzes se apagaram, ela deu um pulinho e se assustou, mas expliquei novamente que era normal, que isso acontecia no teatro. Ao contrário do que pensávamos, ela se comportou divinamente, aplaudindo quando todos aplaudiam e observando a peça com tanta atenção, que me perguntei o que estaria se passando na cabeça dela naquele momento.

Mas, em uma cena que retratava a repressão da ditadura, ela se virou para mim, apontando para os atores, e balbuciou, indignada:

- Mãe, olha pra ele...

Eu não sabia o que dizer... fui pega de surpresa. E acabei dizendo que eles estavam brincando, que ninguém machucaria ninguém. Mas acho que não expliquei muito bem o contexto. Vamos ver se na próxima eu me saio melhor nas respostas.

Pena que ela dormiu no meio da peça, mas na próxima tentarei levá-la mais cedo. Hoje pela manhã, perguntei novamente se ela havia gostado do teatro e ela disse que sim. E perguntou pelas músicas..

- Cadê as músicas, mãe?  

=)



quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Senso de coerência e justiça

Quem nunca se preocupou em exercer de fato a coerência no seu dia a dia, com certeza entra em crise quando a criança da casa chega na casa dos 2 anos. Não é apenas no Facebook que as pessoas te julgam por praticar atos diferentes do que você posta na sua timeline. Em casa, um ser de meio metro já sabe apontar o que você faz de certo ou errado de acordo com os valores que ele acabou de aprender.

Crianças reproduzem as situações à sua maneira
Você manda ela calçar os pés, mas anda descalço? Não se surpreenda se ela chegar com a sua sandália nas mãos, mandando você calçar. Você diz que é feio gritar? E se, no meio de uma bronca que você estiver direcionando a ela, você ouvir que o que está fazendo é feio? Você ensina ela a pedir desculpas e assumir os erros? Então se acostume a pedir desculpa aos outros na frente dela, senão ela vai mandar você fazer isso quando perceber uma situação de conflito. Deixou comida no prato? Jogou alguma coisa no chão? Ihhh... é bronca! 

Há poucas semanas estou aprendendo a lidar com isso - e segurar o riso quando a situação exige concentração. Nas pequenas ações do dia a dia, minha filha me cobra a mesma postura que eu cobro dela. E a memória desses pequenos não é fraca não, viu?! O seu erro de hoje é o mesmo de duas semanas atrás, na concepção deles.

Não acho que uma criança de 2 anos deva saber o que é coerência. Mas sabe praticar muito bem no dia a dia o senso de justiça. Se eu tenho que fazer isso, por que você faz diferente? E não adianta exercer a máxima da autoridade repressiva que você aprendeu: "Por que eu sou sua mãe...". Ela pode até ficar caladinha na hora, mas percebe que, pelo menos na sua casa, as situações não são justas.