quinta-feira, 7 de julho de 2011

Solidariedade

Eu estava assistindo o jornal na companhia de meus sobrinhos Riquinho (6 anos) e Clarissa (4), além de Maria Joana, quando passou uma reportagem sobre um recém-nascido que havia sido abandonado em uma viela, numa cidade que não me lembro agora. Quando a reportagem acabou, Riquinho cruzou os braços com indignação e balançou a cabeça num movimento negativo:

Riquinho: "Rapazz..."
Eu: "Que foi?"
Riquinho: "Isso 'devia' ser crime.. deixar um bebezinho.."
Eu: "Tadinho né, Quinho? Com fome, frio..."
Clarissa: "E se ele 'cholar'?"
Eu: "Ele tava chorando.. você não viu na TV ele chorando? Mas a mulher pegou ele, levou pra casa, deu comida.. ele tá bem"
Riquinho: "Poxa, um bebezinho.. tão pequenininho.."

Percebendo a tristeza deles, preferi não explorar o assunto. Mas, quando pensei que as coisas estavam encerradas... depois de uma meia hora voltaram à tona:

Riquinho: "Rapazz.. essa mulher 'devia' ser processada"
Eu: "Quem, Quinho?"
Riquinho: "A mulher que deixou o bebê na rua. 'Num' se faz não!"
Clarissa: "Cadê o bebê, 'Piscila'?
Eu: "O bebê já tá bem, outra mulher levou ele pra casa, deu comida, deu banho e ele não está mais com frio."
Riquinho: "Eu sei, mas.. poxa, é um bebezinho. Tudo bem, eu não gosto de bebezinhos, eles choram muito... mas deixar na rua..."
Clarissa: "Por que ela fez isso, 'Piscila'?

E aí, galera? Quem tem coragem de responder à pergunta sem incitar o ódio neles, sem estimular o julgamento a uma pessoa que nem conhecem, mas ao mesmo tempo sem naturalizar a situação? É complicado..

Quem pode com esses três?
Eu: "Eu não sei, meu amorzinho.. acho que ela não podia ficar com o bebê e ficou nervosa.. não tinha com quem deixar"
Riquinho: "Sim, mas.. deixar na rua?"
Eu: "É errado.. não pode. Mas a gente não sabe porque ela fez isso.." 

Clarissa logo esqueceu o assunto, mas Riquinho ainda ficou um bom tempo parado, com os braços cruzados e aquela carinha de indignação. E eu sem saber mais o que dizer. E agora, quando Maria Joana crescer? Acho que eu não tô preparada não... rsrs. 

Mas uma coisa eu acho impressionante: a capacidade desses pequeninos de se indignarem e tomarem as dores e o sofrimento de outra criança. Isso é incrível. Por que muitos perdem essa capacidade depois que viram "adultos" e, como diz O Pequeno Príncipe, "se esquecem que um dia foram crianças"?

Nenhum comentário:

Postar um comentário